POUCOS DIAS ANTES do natal de 2017, exatamente um ano atrás, no dia 22 de dezembro, o marceneiro Nelson Neves de Souza Jr., de 29 anos, recebeu uma ligação de uma tia no meio do expediente. A polícia procurava por ele. Naquele dia, Nelson foi do trabalho direto para casa, na favela Vila Sônia, em Praia Grande, no litoral paulista, para “entender o que estava acontecendo”. Ao chegar, foi imediatamente levado para uma delegacia por agentes da Polícia Civil. Só voltou para casa seis meses depois.
“Eu estava numa cadeia e não sabia por quê. Perguntava, buscava respostas, mas só me diziam que alguém da justiça iria falar comigo. Mas ninguém nunca foi”, conta, ao descrever o processo digno de Kafka a que foi submetido – no livro do escritor tcheco, um homem acorda e descobre que está sujeito a um longo e incompreensível processo sem que seja especificado em que crime estaria envolvido.